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Com 5 milhões de audições mensais no Spotify e estreando na função de apresentadora na TV, Marina Sena faz sua escalada rumo ao mainstream

por_Kamille Viola do_Rio

Estrela

ascendente

Com 5 milhões de audições mensais no Spotify e estreando na função de apresentadora na TV, Marina Sena faz sua escalada rumo ao mainstream

por_Kamille Viola do_Rio

Com 5 milhões de audições mensais no Spotify, 1,7 milhão de seguidores no Instagram e, desde agosto, à frente do programa TVZ Ao Vivo, no canal pago Multishow, Marina Sena está cada vez mais próxima do mainstream. Em abril deste ano, a cantora lançou seu trabalho mais recente, o álbum “Coisas Naturais”, seu terceiro disco solo. Todas as faixas estrearam entre as cem mais tocadas na parada brasileira do Spotify, somando cerca de 4 milhões de reproduções no primeiro dia, fazendo com que o álbum tivesse a sexta maior estreia mundial da semana na plataforma.

Antes de se lançar como artista solo, Marina foi vocalista dos grupos A Outra Banda da Lua, formado em 2015, em Montes Claros (MG), e Rosa Neon, criado em 2018 em Belo Horizonte. Em setembro 2019, o Rosa Neon lançou o disco de estreia, homônimo, que contou com um hit, “Ombrim”. Em março do ano seguinte, foi a vez do primeiro álbum d’A Outra Banda. Marina Sena seguiu como vocalista das duas até 2021, ano em que lançou o EP “Catapoeira”, com seu grupo de Montes Claros. Na sequência, deu início à sua trajetória sozinha.

foto_Gabriela Schmidt

A artista já manifestou diversas vezes sua vontade de ser muito popular e de se tornar um dos expoentes da música brasileira no exterior, chegando a dizer que desejava se tornar “tipo uma Shakira”. “Gosto de brincar com as possibilidades e expandir sempre meu público, trazê-los para o meu universo, sempre buscando estar nos meios de comunicação, estar presente nas redes sociais e brincando com os ritmos populares no Brasil e no mundo. Assim, acontece naturalmente”, diz Marina sobre a escalada de sua carreira.

“Coisas Naturais” avança em direção a essa conquista do mundo em relação aos discos anteriores da cantora e compositora. Se, no primeiro álbum, ela passeava por gêneros da música brasileira e, no segundo, deu uma guinada mais pop, no terceiro combina elementos de pop rock, bossa nova, samba, bachata, reggaeton, reggae, funk, lo-fi e brega. Duas faixas contam com feats internacionais: “Doçura”, um reggaeton com a participação do trio Çantamarta, da Espanha (com sample do músico Zé Coco do Riachão, de Brasília de Minas, MG), e “Tokitô”, com a ítalo-brasileira Gaia e a portuguesa Nenny. O single “Numa Ilha” ganhou destaque no jornal The New York Times, como “suave, sincopado e cheio de contentamento”.

NA ORIGEM, UM SONGCAMP

foto_Gabriela Schmidt

Com direção musical do produtor Janluska, guitarrista da cantora desde 2021, “Coisas Naturais” foi iniciado em um songcamp organizado pela artista: ela alugou um sítio em São Roque, interior de São Paulo, e passou dez dias com um grupo de músicos, incluindo André Oliva, o Dedé, e Matheus Bragança, do grupo A Outra Banda da Lua, que ela integrou, com tudo sendo gravado por equipamentos profissionais. Em meio à agitação que tomou conta de sua rotina nos últimos anos, Marina queria que a música voltasse a acontecer de forma mais orgânica em sua carreira.

“A música sai de mim muito naturalmente, e eu respeito o que vem, deixo sempre o subconsciente agir”, diz. “Pego meu violão, brinco com melodias, palavras começam a aparecer, friso uma melodia que me chame a atenção e desenvolvo a letra. Gosto que seja num ambiente tranquilo e com tempo. Mas também sou do tipo que trabalha bem sob pressão (risos).”

Ela explica que, ainda que considere a capacidade de compor “uma qualidade incrível”, respeita muito as artistas que são apenas intérpretes, “que tomam posse de uma composição e nos emocionam”. Num cenário em que mulheres são apenas 8% entre os compositores cadastrados em associações no Brasil, porém, Marina reforça a importância da presença delas nesse campo. “Composição é coragem, acreditar no seu subconsciente, traduzir sentimentos, e é muito importante e inegociável que tenhamos a ótica feminina traduzida para o mundo, que cada vez mais mulheres confiem na riqueza do próprio pensamento”, analisa.

Para a jornalista musical Pérola Mathias, um dos trunfos de Marina Sena é justamente a caneta afiada. “Ela tem três características que são os grandes destaques dela. Primeiro, compõe bem, tanto que todas as faixas do primeiro disco permaneceram. Em segundo lugar, tem um timbre vocal que não é comum, e isso algo que ela pode usar a seu favor, é um diferencial. E, terceiro, tem uma coisa que é: ela aprendeu muito rápido. Se a gente for pensar, do lançamento do ‘De Primeira’ para esse disco atual, ela se tornou uma popstar muito rápido, com essa coisa de dançar, de se produzir e apresentar megashows. Ela tem uma adaptabilidade”, pondera.

CARREIRA PLANEJADA

Pérola também acredita que a cantora se lançou em um momento propício para os artistas do nicho pop no Brasil, em que havia um pop alternativo em evidência, em curva ascendente. Esse timing bom, aliado a uma boa estratégia para impulsionar a trajetória da artista, vem permitindo que ela consiga galgar cada vez mais degraus rumo ao grande estrelato. “Ela fez um planejamento que realmente catapultou a carreira, porque poderia ter voltado para trás em algum momento e não voltou, mesmo com o hiato que ela se deu entre o segundo disco e esse terceiro agora”, analisa Pérola Mathias.

Em janeiro de 2021, ainda em meio à pandemia, Marina soltou o single “Me Toca”, pelo selo Quadrilha, do rapper Djonga, também mineiro. A música era uma prévia do álbum “De Primeira”, lançado em agosto daquele ano. O disco foi bem-recebido pela crítica, mas o sucesso mesmo veio uns meses depois, com a viralização do hit “Por Supuesto” nas redes sociais, catapultando-o à quinta posição da parada brasileira do Spotify e ao topo da parada Viral 50 — Global. O êxito quase imediato rendeu à cantora um certificado de diamante pela Pro-Música Brasil (PMB).

Marina Sena garante que se envolve diretamente nas tomadas de decisão de sua carreira. “Tenho uma equipe escolhida a dedo por mim para conseguir pensar e executar tudo de um jeito que me represente. Minha equipe é muito alinhada com minhas ideias, e o insumo principal para desenvolvermos tudo é exatamente o que está na minha cabeça. A gente destrincha isso e arrasa”, afirma a artista, que conta acompanhar números de plataformas como Google Analytics e as de serviços streaming de música. “Não deixa de ser um termômetro para entender como seu público reagiu ao seu trabalho. E eu gosto de saber os resultados de tudo”, diz.

Nesse sentido, se destaca a parceria da estrela com a empresária Talita Moraes, da TMusic. As duas começaram a trabalhar juntas em 2020, com Talita cuidando da imagem e do marketing da carreira da cantora. Em 2023, a baiana foi convidada por Marina a empresariá-la. “A gente tem um olhar 360 para as carreiras, então acaba fazendo todo o planejamento estratégico, todo o planejamento financeiro, a gente tem uma escuta muito ativa com o artista, de entender as habilidades dele enquanto produto, para que a arte dele esteja o tempo todo no centro da coisa, e não a questão financeira”, garante Talita.

Ela se tornou uma popstar muito rápido, com essa coisa de dançar, de se produzir e apresentar megashows. Ela tem uma adaptabilidade.

Pérola Mathias, jornalista, sobre Marina Sena

Juntas, elas criaram a Petra Zuca — A Casa da Música Brasileira, em outubro de 2024. Localizado em um emblemático imóvel modernista projetado por Gregori Warchavchik nos anos 1930, tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), no bairro da Consolação, em São Paulo, o espaço é um hub pensado para promover conexões entre artistas, produtores e público. O lugar conta com estúdios de música, dança e fotografia, além de escritórios colaborativos, espaços ao ar livre, área de eventos, e ambientes para exposições, apresentações, audições e encontros artísticos. A ideia é que ele sirva para produção de música, mas também aprendizados e troca de ideias.

Um dos destaques do projeto atualmente é o edital Petra Zuca — Audições, que selecionou quatro artistas para desenvolver seus projetos musicais e um prêmio de R$ 10 mil. A categoria “Lançamento e Impulsionamento” é voltada para álbuns já prontos, com, no mínimo, dez faixas, incluindo show de audição e promoção/assessoria de imprensa do trabalho. Já contemplou Juma, do Rio de Janeiro; e Mauricio Panz, de São Paulo.

Neftara, de Salvador; e Oda Cairu, de Cairu (BA), vão contar com apoio de um produtor musical, direção artística, estúdio, mixagem e masterização, planejamento do lançamento, distribuição com gravadora e articulação com plataformas de streaming.

“Sentimos falta de ambientes que promovessem encontros leves entre artistas e trabalhadores da arte. Para debatermos assuntos importantes para a classe, criar, cantar, dançar, nos conhecermos melhor. É um ambiente para nós e para quem quer vibrar nessa energia. Nos organizar e estar todos na mesma página é completamente necessário para que seja sustentável a nossa expressão”, diz Marina.

Talita já tinha tido a experiência de abrir um espaço com o mesmo objetivo em janeiro de 2020. Mas, com a chegada da pandemia da Covid-19, em março daquele ano, precisou fechá-lo. Tempos depois, ao perceber que Marina também tinha esse desejo, o projeto nasceu em São Paulo. “Eu sentia muita falta dessa troca na nossa geração. Fica todo mundo ali, nas suas bolhas e nas suas bandeiras, e não há uma interseção entre esses universos”, lamenta Talita. “Fui criada numa periferia de Salvador, e também muito desse meu desejo do coletivo vem dessa raiz comunitária.”

DOR E DELÍCIA DA EXPOSIÇÃO

foto_Ian Rassari

foto_Gabriela Schmidt

Marina Sena segue conquistando cada vez mais espaço e público, mas se, por um lado, o aumento da projeção aumenta sua base de fãs, por outro, ele amplia a exposição da vida pessoal do artista e o volume de críticas (e até de ataques de ódio). Depois de sofrer com isso, no início, a cantora diz que começou a ter mais compaixão.

“Eu sou muito livre, cuido do meu amor próprio, da minha autoestima, crio com confiança, me desafio a coisas novas, me jogo nas experiências. Isso incomoda quem vive preso nas próprias crenças e em crenças impostas pelo sistema”, defende. “Eu não culpo ninguém por esse comportamento corrosivo, mas acho que, para um mundo mais coerente, seria importante cada um entender de onde vêm esses pensamentos destrutivos para si mesmo e para o outro.”

Enquanto isso, ela segue com os shows da turnê atual, sem planejar um novo álbum. “Ainda não estou prenha do meu próximo trabalho (risos), mas já sinto ele se anunciando em algum lugar. Quando chegar, vai ser avassalador, como está sendo ‘Coisas Naturais’ em minha vida. Mas temos outros lançamentos que não são álbuns, mas são coisas muito legais que os fãs vão amar”, promete.

Marina, que em dezembro de 2022 teve lançado um feat com ninguém menos que Gal Costa (1945-2022), “Para Lennon e McCartney” (de Lô Borges, Fernando Brant e Márcio Borges), sonha grande em relação aos próximos duetos: ela cita nomes como Caetano Veloso, Marisa Monte e a espanhola Rosalía.

foto_Divulgação
foto_Gabriela Schmidt
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