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Talita Mel

Um papo com a jovem cantora e compositora cearense que estourou com o forró “Melzinho”, em parceria com Xand Avião, e já passa de 4 milhões de ouvintes mensais no Spotify

por_Alessandro Soler de_Madri

Um papo com a jovem cantora e compositora cearense que estourou com o forró “Melzinho”, em parceria com Xand Avião, e já passa de 4 milhões de ouvintes mensais no Spotify

por_Alessandro Soler de_Madri

Na virada do século, o mercado musical global sofria com a pirataria, os gêneros regionais nordestinos ficavam quase sempre circunscritos ao Nordeste, e muito poucas mulheres jovens tinham a chance de emplacar suas composições nas paradas de sucesso. Também na virada do século nasceu Maria Vanúzia Meireles.

foto_Divulgação

Filha de dois agricultores da zona rural de Aurora (CE), ela surfa, 25 anos depois, a bonança de um mercado movido a streaming, difunde seu forró autoral de pegada geração Z para o Brasil e o mundo e é capaz de liderar a playlist Viral 50 do Spotify global, além de acumular 4 milhões de ouvintes mensais na maior plataforma do planeta.

Empoderada e simples, terna e guerreira, essa artista que, por inspiração dos seus agentes, foi rebatizada como Talita Mel tem altos planos para os anos de carreira que virão. “Meu sonho era poder cantar, cantar para multidões. Agora quero gravar com grandes vozes do mercado, com meus ídolos, Simone Mendes, Tarcísio do Acordeon, Murilo Huff, Daniel, Zezé Di Camargo… E continuar vivendo de música”, diz, numa conversa com a Revista UBC por videochamada, na qual admite que seu especial timbre grave tem tudo a ver com o da sua principal inspiradora: “É uma pena que eu já não possa gravar com a Marília (Mendonça). Seria a realização do meu maior sonho.”

Admiradora também do pernambucano João Gomes, Talita agarra o mesmo bastão e anuncia, solene: quer levar a vaquejada, a cultura boiadeira do sertão nordestino, para todo o Brasil. Mas com voz própria e um orgulhoso olhar feminino.

“A minha primeira composição foi ‘Batom no Tom’, e que traz uma pegada de empoderamento feminino. Comecei a representar isso nas minhas canções, e é por aí que eu vou”, resume a cantora e compositora, que lançou em maio seu primeiro disco, “Na Pegada da Talita”.

foto_Divulgação

Você acaba de cruzar a linha dos 4 milhões de ouvintes mensais no Spotify. O que sente com isso?

TALITA MEL: Muita gratidão no meu coração por tudo o que está acontecendo na minha vida. Nada disso eu conseguiria sem estar orando, sem ter o direcionamento de pessoas boas ao meu lado. Alcançar o top 1 viral em tantos países… não caiu a ficha ainda, velho, juro, é muito mais do que eu pedi a Deus. Meu sonho era poder cantar, cantar para multidões. Me vejo desde criança nos flashes, e a galera gritando, cantando. Já fiz muitos shows, com o Xand Avião (parceiro dela no seu maior sucesso, “Melzinho”), em eventos. Mas ainda falta liderar uma turnê minha, o que vai acontecer ainda em setembro. Nas plataformas, a coisa tomou outra proporção, está sendo uma realização. E sei que os próximos passos vão ser muito grandes. Agora quero gravar com grandes vozes do mercado, com meus ídolos, Simone Mendes, Tarcísio do Acordeon, Murilo Huff, Daniel, Zezé Di Camargo… E continuar vivendo de música. É uma pena que eu já não possa gravar com a Marília (Mendonça). Seria a realização de outro grande sonho. Um pouco desse timbre grave que eu tenho vem dela.

Tem conseguido compor coisas novas com uma rotina de tantas apresentações e viagens?

Parei ontem e consegui compor um pouco. Mas não tenho conseguido parar muito em Fortaleza. E não consigo fazer virtualmente. Você tem que ter tempo, estar com a cabeça boa. O processo de compor vem muito das histórias que eu escuto, também presto muita atenção às redes sociais para ver o que está rolando, o que a galera está postando. Claro que o artista não deve se basear só em trend. Tem que ter sentimento, melodia. E eu falo muito que a melodia é dada por Deus. Presto atenção no que a galera quer e coloco meu próprio sentimento. O meu e os dos meus parceiros. Porque já me acostumei a essa dinâmica da composição com quatro, com cinco parceiros. Cada um sempre traz uma ideia, uma forma de ver aquela obra. São uma gente com a qual eu tenho a honra de compor junto. Fui aprendendo muito deles, escutando muito.

Você toca algum instrumento?

Aprendi violão um pouco, não faz muito. Ajuda demais na composição, quando quero mostrar uma melodia. Mas, na maioria das vezes, é alguém que toca, não eu.

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Desde novinha você sempre teve envolvimento com a música?

Comecei muito cedo a cantar na igreja. Eu morava na zona rural, e meu pai se separou da minha mãe, então fomos para a cidade de Aurora. Com muita vergonha, eu cantava por aí. Sempre tive medo, mas ia mesmo assim. Aquela emoção era incrível. Cantei na escola pela primeira vez bem pequenininha, num Dia das Mães. Minha mãe foi me ver e se tornou ali minha principal incentivadora. Ela sempre me deu muita força. Aí fui indo, tirei primeiro lugar num festival mirim na minha cidade, e logo, aos 13 ou 14 anos, já cantava em barzinho. Antes disso, já me virava como podia, vendia salgado nas ruas para ajudar em casa. O primeiro aluguel de mainha era num quartinho de tijolo. Eu tinha que trabalhar para ajudar. Fui babá, trabalhei em loja de açaí… Os donos dali foram maravilhosos, a Elizabeth e o Alex. Foram eles que pagaram as minhas duas primeiras gravações.

Alcançar o top 1 viral em tantos países… não caiu a ficha ainda, velho, juro, é muito mais do que eu pedi a Deus.

E qual foi a primeira música que escreveu?

A primeira composição mesmo foi mais recente. Eu antes interpretava músicas dos outros. Compus “Batom no Tom”, que traz uma pegada de empoderamento feminino. Comecei a representar isso nas minhas canções, e é por aí que eu vou. Mais recentemente veio “Melzinho”, em que já entrou o Xand Avião como parceiro. Foi Deus quem colocou Xand na minha vida. Temos algumas colaborações, e espero que venham ainda mais.

Quem a inspira?

Primeiramente Luiz Gonzaga, sabe? Minhas raízes são muito nordestinas, não tem como eu não ter ouvido isso na infância. Meu pai gostava dos aboios de vaquejada. Galeguinho Aboiador, Tarcísio do Acordeão, um cara que admiro demais. Quero levar a minha cultura, essa cultura, para o mundo. É ótimo ser você mesmo. Cheguei com meu jeitinho (de sertaneja), e muita gente dizia aqui (em Fortaleza) que eu era diferente. E sabe? Não quero mudar isso, quero transparecer o que eu sou. É muito bom defender a cultura da vaquejada.

Como João Gomes.

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Como João Gomes! Mas com meu jeito, minha história.

E a mudança do nome artístico?

No início eu assustei. A escolha foi do Jujuba Compositor (da Acertei Produções, sua agência), que já batizou outros artistas. Não tinha como errar. Quando ele falou Talita, eu já gostei. Tive um sentimento bom. Até porque tenho uma sobrinha que se chama Talita. O Mel veio antes de “Melzinho”.

Como escolhe os parceiros? Quem toma as principais decisões da sua carreira?

Graças a Deus, aqui é uma empresa maravilhosa onde eles escutam muito o artista. Claro que respeito a opinião deles, têm muita experiência, eu ainda estou aprendendo. Estão 20 anos à minha frente. Mas me ouvem muito, pedem minha opinião. Me sinto muito feliz. Vão vir feats que são meu sonho, um medley com Xand, Felipe Amorim, Talita e Zeca. E vai vir uma música no meu DVD, fiz com Xand de novo: “Um Amor Além do Pós”.

Se pudesse dizer algo a uma menina de uma zona rural do interior do Brasil que sonha em ter uma carreira na música, como aquela menininha que você foi, o que diria?

Tenha muita força e persistência. Não é fácil. Principalmente para nós, mulheres. São vários os fatores que dificultam as coisas para a mulher no mercado. Tem que ter uma boa conduta e muita força mental. A coisa que eu mais ouvi na vida foram palavras pesadas. Passei necessidade. Enfrentei situações difíceis. Se fosse olhar pelos olhos da razão, não conseguiria. Mas olhei pelos olhos da fé e da persistência. Se eu não tivesse vindo para Fortaleza passar aqui um ano de complicações, não estaria vivendo tudo isso agora.

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