Cerca de um ano e meio depois de ser aprovada — e festejada pela comunidade criativa —, a Lei de Inteligência Artificial da União Europeia vive um momento complicado. Em seu processo de implementação, três importantes documentos que ajudarão a basear a validação da legislação nos diferentes parlamentos nacionais do bloco trazem trechos que desagradam fortemente aos titulares de direitos autorais. Entidades como a Cisac (Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores) e o Gesac (Grupo Europeu de Sociedades de Autores e Compositores) se juntaram a cerca de 40 outras num comunicado conjunto, em agosto, denunciando o que chamam de “uma oportunidade perdida de oferecer proteção significativa aos direitos de propriedade intelectual no contexto da IA Generativa.” Os três documentos e seus pontos problemáticos, segundo as entidades, são estes:
Código de Conduta: nesse documento, o sistema de opt-out previsto na lei, ou seja, aquele que permite que donos de obras determinem que elas não sejam usadas no treinamento das IAs, foi fortemente dificultado. Pela redação atual desse documento, há uma exigência de que os autores utilizem linguagem e medidas excessivamente técnicas (como arquivos robot.txt ou firewalls) no processo de exclusão de suas obras, o que inviabiliza o opt-out em muitos casos. Além disso, o texto sugere que treinamentos realizados fora da União Europeia talvez não estejam sujeitos à lei — mesmo quando o serviço de IA em questão atua no território europeu.
Modelo de Transparência: exige que as empresas de IA revelem apenas os “10% principais” dos domínios utilizados para coletar conteúdo. A exigência da classe criativa é que os desenvolvedores de IA informem 100% dos conteúdos que usaram para treinar seus sistemas, e que esse processo de informação seja sistematizado e acessível por todos. Sem essa transparência, será muito difícil para um autor provar que sua obra foi usada sem sua autorização.
Diretrizes: segundo as entidades, elas são muito vagas e dão a entender que as obrigações da Lei de IA talvez nem se apliquem a serviços que geram música a partir de comandos (prompts), caso de plataformas como Suno e Udio.
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A informação completa no site da UBC
O Spotify terminou o segundo trimestre de 2025 com 276 milhões de assinantes premium em todo o mundo, um aumento de 8 milhões em relação ao trimestre anterior. O número superou em 3 milhões as expectativas da própria empresa, e foi impulsionado por campanhas promocionais globais e crescimento em todas as regiões, com destaque para América Latina e outros mercados emergentes.
A base total de usuários ativos mensais (MAUs) — que inclui usuários pagantes e gratuitos — também cresceu significativamente, atingindo 696 milhões. Isso representa 18 milhões a mais do que no primeiro trimestre e 11% de crescimento na comparação anual. O número superou em 7 milhões a projeção feita pela empresa para o período (689 milhões).
Segundo o copresidente Gustav Söderström, o Spotify segue ampliando sua liderança global no streaming:
Como declarou Alex Norström, diretor de negócios da empresa, durante a apresentação dos números, isso é só o começo:
“É perfeitamente plausível imaginar que podemos atingir 10% ou até 15% da população mundial.”
A figura do compositor que escreve músicas exclusivamente para outros artistas está desaparecendo. Um relatório recente da MIDiA Research, baseado em uma pesquisa com 776 criadores musicais de vários países, mostra que apenas um em cada cinco profissionais tem a composição como atividade principal. A maioria já acumula funções como cantar, produzir, apresentar-se ao vivo, construir presença nas redes sociais e, em muitos casos, abrir negócios paralelos para garantir estabilidade financeira.
Outro dado do relatório chama atenção: os compositores que investem em visibilidade digital, inclusive em plataformas como SoundBetter e BandLab, conseguem ter mais lançamentos próprios e renda acima da média do mercado. Ao mesmo tempo, apenas cerca de 20% colocam “construir uma marca pessoal” entre as metas prioritárias, mostrando que nem todos desejam ou conseguem embarcar nessa estratégia.
Esse cenário evidencia um mercado de bifurcação. Enquanto alguns se reinventam como intérpretes ou produtores, outros acabam ficando para trás.
Para os grandes detentores de direitos, o mercado da música em 2025 só traz boas notícias: receitas recordes impulsionadas por 800 milhões de assinantes premium (entre todas as plataformas) e um mercado global de música gravada avaliado em mais de US$ 30 bilhões, segundo a IFPI. Mas, para artistas e gravadoras que atuam de forma independente, o cenário está longe de ser tão animador. E a diferença entre esses dois mundos está aumentado, de acordo com o relatório “Combatendo a Emergência de um Mercado de Streaming de Música em Duas Camadas", publicado em julho pela Impala, organização que atualmente representa mais de 6.000 gravadoras independentes na Europa.
“A indústria de música digital está em um momento crítico. Há um abismo crescente entre grandes detentores de direitos e atores independentes, impulsionado pela consolidação do mercado, políticas opacas das plataformas e novas práticas de monetização que, cada vez mais, favorecem a quantidade em detrimento da diversidade", defendem Dan Fowler e Katherine Bassett, autores do estudo.